quarta-feira, 2 de março de 2011

Ensinando a construção enxuta através de jogos educativos

Relato abaixo trechos da dissertação do Eng. Fabiano Romanel que propõe uma estratégia diferente para disseminar a Construção enxuta através de jogos educativos com a equipe de obra e com equipes técnicas. Para isso separei alguns trechos da dissertação do Fabiano que ilustram bem esta nova forma de ensinamento sobre a construção enxuta. A versão completa do trabalho pode ser obtida no seguinte endereço eletrônico: http://www.ppgcc.ufpr.br/dissertacoes/d0128.pdf


“O primeiro jogo voltado para negócios foi o Top Management Decision Simulation, desenvolvido em 1956 pela American Management Association (AMA), para aplicação em seminários de administração. No ano seguinte, o Top Management Decision Game foi usado pela primeira vez em uma sala de aula, na Universidade de Washington, nos Estados Unidos. A partir daí, o número de jogos e simulações voltados para empresas e negócios cresceu muito. Em 1969 foi publicado o Business Games Handbook, de Graham e Gray, que relacionou perto de 190 jogos empresariais, enquanto o Guide to Simulation/Games for Education and Training, de Kibee, Craft e Nanus, publicado em 1980, descreveu 228 jogos e simulações voltados para os negócios (FARIA; WELLINGTON, 2004).

O jogo é uma atividade comum na sociedade. Essas práticas são muito utilizadas para ajudar a desenvolver habilidades que podem ser utilizadas na vida real. De modo geral, os jogos são mais organizados do que simples brincadeiras, por possuírem uma dinâmica própria composta por objetivos, mecanismos de pontuação e regras definidas. São conceitos claros de vencer e perder, que ajudam a desenvolverem noções de cooperação e de competição necessários na vida social (NORMAN, 2004). Enfim, as habilidades para os jogos desenvolvem comportamentos adaptáveis sem, no entanto, oferecer um benefício imediato de sobrevivência para o usuário, sendo considerados como recreativos (MURRAY, 2003).

Passerino (2009) inclui outros elementos ao caracterizar os jogos:

  • capacidade de absorver o participante de maneira intensa e total (clima deentusiasmo, sentimento de exaltação e tensão seguidas por um estado de alegria e distensão);
  • atmosfera de espontaneidade e criatividade;
  • limitação de tempo: o jogo tem um estado inicial, um meio e um fim; isto é, tem um caráter dinâmico;
  • limitação do espaço: o espaço reservado seja qual for a forma que assuma é como um mundo temporário e fantástico;
  • existência de regras: cada jogo se processa de acordo com certas regras que determinam o que vale ou não dentro do mundo imaginário do jogo, o que auxilia no processo de integração social;
  • estimulação da imaginação e autoafirmação e autonomia.
Passerino (2009) completa que o jogo é o vínculo que une a vontade e o prazer durante a realização de uma atividade. O ensino utilizando meios lúdicos cria ambiente gratificante e atraente, servindo como estímulo para o desenvolvimento integral do seu participante. O desafio do jogo une todas as idades e níveis de formação. Prossegue-se a investigação na busca de encontrar jogos que estimulem a aprendizagem dos conceitos de construção enxuta.

O jogo Desafiando a Produção foi elaborado para interação com perguntas e respostas, pois o seu foco está na relação entre os jogadores, proposta pelas perguntas e respostas do baralho. Esse tipo de jogo é o ideal para jogar em mais participantes, formando pequenos times. Também considerado progressivo, pois utiliza tabuleiro, cartas e dado; e de simulação de atividades, vivenciadas no ambiente do canteiro de obras, com relato de situações reais do local de trabalho.

Esse jogo propõe numa dinâmica para aprender os conceitos da construção enxuta e disseminar conceitos didáticos. Ao utilizar o baralho, espera-se ter a empatia com os operários, visto que o baralho é a diversão mais comum nos canteiros de obra durante os intervalos no expediente.

O tabuleiro foi inspirado no jogo Na trilha do mestre Zé, jogo desenvolvido em pesquisa científica na Universidade de Fortaleza para transmitir conceitos de Segurança do Trabalho aos operários na construção civil.

Para esse experimento são usados 1 tabuleiro, 1 dado, 6 peões, baralho de 119 cartas com situações da Construção Civil, considerando de 2 a 6 equipes participantes, compostas por até 5 jogadores.

Após alguns dias da aplicação do jogo fez-se contato com a Professora da turma que participou do Experimento, na busca de identificar qual o impacto do jogo no aprendizado dos alunos que participaram da atividade. Em sua fala, a entrevistada afirma que “após o jogo observei que os alunos ficaram mais “abertos” a informações sobre esta filosofia (...), o jogo vem como possibilidade de simular a prática por eles” (ROCHA, 2009a). A partir da entrevista, constatou-se que os alunos não só gostaram do jogo, como também fixaram os conceitos da construção enxuta.

Em relação à construção enxuta, a professora comentou que alguns alunos atuam no setor da construção civil e já tinham ouvido falar de certos termos utilizados pela construção enxuta, como kanban, por exemplo. Mas, “eles não podiam imaginar que esses termos fossem diretamente aplicados na construção civil. Houve aprendizagem, puderam associar com os conhecimentos que já tinham” (ROCHA, 2009a).

A professora considera que o jogo será um “fator de estímulo para quem aprende e a fixação de conceitos aconteça de forma bastante natural, sem que o aluno crie resistência para o que lhe é apresentado” (ROCHA, 2009a).

Acrescentase que o jogo gerou uma expectativa geral no grupo e, em seu relato, a professora disse que depois da aplicação do jogo, ao entrar na sala de aula, os alunos perguntaram: “Professora, qual é o jogo de hoje?” (ROCHA, 2009a), mostrando a vontade de repetir a experiência e também a aceitação do jogo Desafiando a Produção. Além disso, ocorreu um aumento no estímulo, participação e freqüência das aulas.

Um abraço
Msc. Eng. Bruno Soares de Carvalho

Um comentário:

Thiago Pinheiro disse...

Como sempre, muito informativo o blog. Parabéns Bruno.

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